O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA), senador Fabiano Contarato (Rede-ES), demonstraram ter visões totalmente divergentes sobre a condução da atual política ambiental no país, durante a reunião da comissão que investiga as causas dos incêndios no Pantanal, nesta terça-feira (13).
Para Contarato, Salles “já conseguiu entrar para a História do Brasil”, por, no seu entender “promover um desmonte de proporções inimagináveis” das políticas ambientais.
— Ele está desmontando o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Acabou com o Plano de Combate ao Desmatamento, com a Secretaria de Mudanças Climáticas e com o Departamento de Educação Ambiental, que só foi restituído um ano depois. Criminaliza ONGs e prolifera agrotóxicos. O governo nada faz pra cobrar empresas do agronegócio que devem R$ 200 bilhões em tributos. A população indígena é dizimada. E o que ocorre no Pantanal é uma tragédia anunciada. O Brasil não cumpre o Acordo de Paris, e o aumento do desmatamento na Amazônia subiu 145%. O Código Penal é claro, quando diz que a omissão é penalmente relevante quando o agente tem por lei a obrigação da proteção, vigilância e cuidado — criticou Contarato, para quem o país passou de “referência internacional, para vergonha mundial” em relação às políticas ambientais. O senador também lamentou profundamente que o governo culpe os índios pelas queimadas.
Na resposta, Salles negou que esteja “desmontando” o MMA. Ele disse que já recebeu o Ministério “desmontado” pelos governos anteriores e o que faz agora é “colocar o cidadão brasileiro no centro dessas políticas”.
— Nós recebemos este desmonte, que foi feito antes de nós. Recebemos o Ibama e o ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade] com 50% do quadro de pessoal faltando, orçamentos deficitários e problemas graves de infraestrutura. Estamos tentando, em meio ao caos que herdamos de governos passados — caos de gestão, econômico e de corrupção — estamos tentando arrumar a casa com os recursos que temos — disse o ministro.
Em resposta à senadora Simone Tebet (MDB-MS), Salles disse ser contra a sugestão de incluir o Pantanal, ainda que temporariamente, no Conselho da Amazônia, que é conduzido pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Para o ministro, a inclusão “não trará consequências práticas” no combate aos incêndios no Pantanal. Além disso, explicou, o presidente da República tem a prerrogativa de deslocar as Forças Armadas com esse fim “nos momentos necessários”.
Como autora da sugestão para que o Pantanal seja incluído no Conselho da Amazônia até 2025, Simone disse esperar que Bolsonaro aceite a proposta, o que permitirá não apenas combater incêndios num período de estiagem muito forte, mas também executar uma série de políticas públicas, produzir investimentos socioeconômicos e levar desenvolvimento científico-tecnológico para a região, defendeu. Senadores da comissão realizam gestões, tentando uma reunião pessoal com o presidente Jair Bolsonaro na semana que vem, quando defenderão a publicação do decreto incluindo o Pantanal no Conselho da Amazônia.
Também em resposta a Simone e a Contarato, Salles defendeu a gestão atual da política de multas ambientais, baseada em audiências de conciliação, que “não persegue o produtor rural”. O ministro citou um levantamento da Controladoria-Geral da União (CGU), para quem o modelo anterior, “muito punitivista”, não trazia resultados práticos: levava à excessiva judicialização das multas e a um índice muito baixo de pagamentos efetivos.
— Melhoramos o sistema com a conciliação ambiental. Trinta dias após o auto de infração, fazemos uma audiência na qual o suposto infrator se encontra com uma junta de conciliação, composta por Ibama, ICMBio e Advocacia-Geral da União. Ali pode-se fazer um acordo para a recomposição do dano ou alterações do auto de infração, podendo haver o parcelamento da multa. A conciliação vai aumentar muito a eficiência do modelo de multas ambientais — disse o ministro.
O presidente da comissão, Wellington Fagundes (PL-MT), leu um documento da Consultoria do Senado sugerindo ao MMA destravar o Fundo Amazônia, que tem mais de R$ 2,2 bilhões em caixa, e pode usar 20% desse montante em ações no Pantanal. Já Simone defendeu que o governo crie uma brigada permanente de combate a incêndios no Pantanal. Para ela, se a brigada existisse, não teria havido a queimada em área superior a 4 milhões de hectares, como houve até agora em 2020. Salles também defendeu a criação da brigada.
Já em resposta ao senador Carlos Fávaro (PSD-MT), o ministro afirmou que o governo apoia o PL 4.629/2020, de autoria de Fávaro, que prevê o uso de aviões agrícolas no combate a incêndios florestais. Aprovada recentemente no Senado, a proposta está em análise agora na Câmara dos Deputados.
Salles anunciou ainda a intenção de dar mais protagonismo ao Programa Floresta Mais Pantanal, com o pagamento por serviços ambientais (PSA).
— O PSA é o maior programa de pagamento por serviços ambientais no mundo. O dinheiro vai diretamente para o produtor, para quem tem boas práticas, e não para intermediários, que costumeiramente faziam consultorias, prestavam assistências, ficavam com a maior parte do dinheiro, e o produtor, que é quem realmente atua, ficava com poucos recursos — disse o ministro.
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